terça-feira, 17 de junho de 2008

Educar é crescer.

“Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra”.
Anísio Teixeira

A Escola Parque entrou no Projeto Lanterninha por questões óbvias. O projeto dialoga com o pensamento de Anísio Teixeira, idealizador da escola, já que através do cinema buscamos transformar as escolas em um espaço vivo de conhecimento, aprendizado e crescimento. Pensamos a arte como elemento fundador da educação e do pensamento.

Localizada na Liberdade, a Escola Parque não dispõe de salas de aula tradicionais. Lá, é trabalhado o conceito de educação em tempo integral. Os alunos das escolas classe (educação tradicional) passam o turno oposto ao da sala de aula, na Parque, onde desenvolvem atividades artísticas, manuais, estudam línguas, praticam esportes, e dentre uma série de outras atividades desenvolvem o pensamento, a sensibilidade, o conhecimento, a vida. 

Precisamos de algum tempo para percorrer toda a extensão do terreno desta escola, dividido em grandes espaços de experimentação e produção. Um imenso galpão para trabalhos artísticos, exibe um igualmente imenso painel de Carybé. Nesse espaço, é possível sentir a inspiração de Anísio Teixeira, e entender porque só a educação pode começar a reconstrução de um novo país.  Ao lado um galpão de esportes, um anfiteatro, uma biblioteca e um grande teatro que abriga 480 pessoas. Tudo ladeado por áreas verdes e imensas mangueiras. Além das possibilidades múltiplas de ensino, na escola, são servidas todas as refeições para seus alunos. Anísio Teixeira almejava a construção de nove dessas escolas em Salvador. Foi construída apenas a da Liberdade.

Essa é uma das escolas que o Projeto Lanterninha tem a sorte de trabalhar.

Desde o início do projeto na Escola Parque, já encontramos parceiros multiplicadores. Ana Lúcia, uma das coordenadoras, assumiu a execução do projeto e desde então, coloca a sua sensibilidade a serviço do lanterninha. Nos primeiros encontros com os alunos, sempre tímidos, eu tentava com certo exaspero, apresentar-lhe o quanto o cinema é uma arte fascinante e no caso dos filmes brasileiros, o quanto eles podem revelar sobre a nossa cultura. Aos poucos, fui percebendo o tempo dos alunos, e aí as primeiras manifestações aconteceram. A presença sempre constante da professora Jocélia foi me ajudando a entrar no universo particular dos meninos e meninas.

Hoje, na oitava semana de exibição, depois de termos assistido 4 documentários e três filmes de ficção, Narradores de Javé caiu como uma luva. Os poucos que vão saindo da sessão, reafirmam o interesse de quem fica até o final, participa do debate e se mostra interessado em ingressar no mundo do cinema. Discutimos o making-off, formato que foi apresentado a eles só agora. Após o término da sessão, rodeada pelos alunos interessados no projeto, eu e Fábio ensinamos a eles os mecanismos de ligar e armar o set de projeção. Na próxima semana, serei monitora e depois, apenas observarei os meninos na montagem dos equipamentos.

Essa é a nossa proposta com a implantação dos cineclubes nas escolas. Transformar os alunos em agentes cineclubistas e através do cinema, transformar a vida desses meninos e seus contextos.

A escola deve comportar a arte como elemento tranformador, produtor de conhecimento e instância de reflexão crítica.

Para finalizar, um trecho do discurso de Anísio Teixeira na época da inauguração da Escola Parque na Liberdade, chamada por ele de Centro de Educação Popular.

Os brasileiros, depois de trinta, são todos filhos da improvisação educacional, que não só liquidou a escola primária, como invadiu os arraiais do ensino secundário e superior e estendeu pelo País uma rêde de ginásios e universidades cuja falta de padrões e de seriedade atingiria as raias do ridículo, se não vivêssemos em época tão crítica e tão trágica, que os nossos olhos, cheios de apreensão e de susto, já não têm vigor para o riso ou a sátira.

É contra essa tendência à simplificação destrutiva que se levanta êste Centro Popular de Educação. Desejamos dar, de novo, à escola primária, o seu dia letivo completo. Desejamos dar-lhe os seus cinco anos de curso. E desejamos dar-lhe seu programa completo de leitura, aritmética e escrita, e mais ciências físicas e sociais, e mais artes industriais, desenho, música, dança e educação física. Além disso, desejamos que a escola eduque, forme hábitos, forme atitudes, cultive aspirações, prepare, realmente, a criança para a sua civilização – esta civilização tão difícil por ser uma civilização técnica e industrial e ainda mais difícil e complexa por estar em mutação permanente. E, além disso, desejamos que a escola dê saúde e alimento à criança, visto não ser possível educá-la no grau de desnutrição e abandono em que vive.


Um grande abraço a todos,

Tenille
Lanterninha

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