sexta-feira, 18 de julho de 2008

DEPOIMENTO DA ALUNA LETÍCIA SANTANA

Em uma das exibições especiais do filme Esses Moços, do José Araripe Jr, no Colégio Luis Tarquínio, uma das alunas, Letícia, escreveu esse pequeno texto. Letícia é uma dessas meninas apaixonadas por cinema, atuante na escola e que sabe bem o que quer. Ela é uma das nossas cineclubistas em formação contribuindo para espalhar a sétima arte no seu colégio e quem sabe na sua comunidade.

"Esses Moços

O filme relata coisas das quais não convivemos no nosso cotidiano.

Receber essas pessoas é muito satisfatório, pois pra uma pessoa que é apaixonada por cinema como eu receber um diretor de um filme e poder saber o que acontece atrás das câmeras é muito melhor, pois assim podemos interagir e fluir a mente e as coisas.

"Viva uma vida de sonho
Aonde a porta do mundo
Estão abertas pra aqueles
Que querem adquirir conhecimento"

Letícia Carine Nunes de Santana
1 ano A
e-mail:
letícia.carine@hotmail.com
orkut: lete100% "

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Texto retirado do blog Estuário do escritor e poeta Samarone Lima:


Revelações de um amante da literatura (Parte I)
7 de julho de 2008, às 11:52h por Samarone Lima


Aldemir Félix gosta de ser chamado de “Suco”. Negro, 20 anos, morador de Brasília Teimosa, ele nunca pensou que o mundo dos livros pudesse entrar em sua vida com tanta força.
Ele foi um dos meus alunos da Oficina da Palavra, na escola Kabum! No começo arredio, sem muita conversa, começou a se aproximar e levar livros para casa. Aos poucos, foi mergulhando na leitura. Um dia, chegou á escola emocionado. Descobriu que tinha uma coisa na cabeça - poesia. Hoje tem uma mini-biblioteca com 64 livros, e não pára de escrever. Pedi que ele escrevesse algo sobre a descoberta do mundo da literatura, para uma matéria que estou escrevendo para a revista Continente Multicultural. Compartilho com meus poucos e fiéis leitores:
“No início eu não gostava de ler. Quando via as prateleiras das bibliotecas, achava que elas não diziam nada para mim. Na verdade, eu queria um livro que gritasse para mim. Eles permaneciam calados”.
“É muito difícil um jovem brasileiro, negro, ter acesso a livros bons. Além do mais, há pouco incentivo por parte da família e do próprio governo. Sem interesse algum nos livros, na escola eu ia de mal a pior. Não conseguia interpretar um texto, meus erros de ortografia eram em grande escala. A escola era broxante e a falta de conhecimentos era gritante. Eu estava fazendo parte do índice dos brasileiros que não lêem livros.
Quando a situação apertava na escola, eu ia nas bibliotecas da cidade, mas fazer o quê? Eu buscava respostas sobre o que eu sentia aos 17 anos”.
“Aos 18 anos, encontrei sangue em minha garganta, pois estava lendo “A Imprensa Livre”, de Fausto Wolff. Eu não li esse livro, engoli todo com capa e contra-capa. Senti medo em absorver o livro por completo, pois não queria perder a inocência do mundo. Mas o medo teve sua recompensa. Compreendi as palavras de Wolff. Esse foi o primeiro livro que li com devoção, foi o primeiro a construir minha crítica a base de ferro e brasa”.
“Certa vez eu li oito horas sem parar. Comecei por volta de uma da tarde. Estava lendo “O Homem e seu algoz”, também de Fausto Wolff. São contos duros e crus, e passei a tarde no quarto. De lá, saía apenas para o banheiro, onde também ficava lendo. Fui vencido pela fome, às dez da noite”.
“Me apaixonei pela poesia quando conheci Miro, poeta recifense. Ele recitou alguns poemas e pleno Carnaval, na mesa onde eu estava. Passei mal. Definitivamente, senti algo que não consigo explicar. Naquela mesa, estava nascendo alguém que não era eu. Depois, passei a ler de verdade. Já tinha passado por Ferreira Gullar, Fasuto Wolff, Josué de Castro, Eliane Brum, entre outros escritores modernos”

“A vida mudou e as coisas também. Eu estava sabendo usar a literatura como balança existencial. O que falta para o jovem ler é bons livros e mais bibliotecas. As pessoas ao meu redor passaram a tentar seguir meu exemplo, de ler por amor e paixão e repassar isso adiante. Amigos pegam livro comigo. Ler se tornou uma epidemia boa Antes eu não tinha nenhum livro a não ser a Bíblia, hoje tenho um pequeno acervo. Alguns foram comprados, outros doados. Tenho 64 livros, entre crônicas, ficção, poesia, romances”.

“Os livros traçaram meu destino. Eu cresci e não tinha nenhuma perspectiva. Quando me perguntaram - qual é a tua perspectiva de vida? -, eu não sabia o que dizer. Os livros me deram esta possibilidade: quero ser escritor. Me esforço para isso. Estou começando a escrever contos. Tenho também seis cadernos cheios de poesia”…

“As palavras dos livros são como garças que voam para dentro da gente”.